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23 de setembro de 2015

Resenha - O Buraco da Agulha


Uma coisa que sempre gostei dentro da literatura são os romances que retratam histórias ambientadas durante os eventos que registraram a Primeira e Segunda Grande Guerra, com narradores descrevendo campos de concentração, zonas de batalha, jogos políticos e personagens icônicos — Hitler, Churchil, Stalin e companhia — proporcionando um interessante misto de informação e diversão enquanto a trama se desenrola. Nos sentimos parte desses acontecimentos enquanto acompanhamos os personagens, ainda que tudo tenha ficado para trás a muito tempo, escondido nas sombras dos horrores da guerra.

Pensando sobre o assunto enquanto visitava um sebo em minha cidade, me deparei com o um livro que a princípio me chamou mais atenção pelo nome na capa, cujo dono eu já conhecia. Ken Follett, autor conhecido por escrever A Chave de Rebecca, estava lá abandonado na prateleira e resolvi levá-lo comigo; logo descobriria que O Buraco da Agulha era uma obra que valeria a pena.


Em plena Segunda Guerra Mundial, às vésperas do Dia D, um espião a serviço de Hitler está a um passo de revelar aos alemães o segrego que pode mudar o rumo da História. Mas um obstáculo em seu caminho deve ser eliminado: Lucy Rose, jovem e bela mulher cuja vida pacata ao lado do marido inválido e do filho pequeno se transforma numa angustiante tortura.

Ainda mais que romances que desenvolvem sua trama tendo a Segunda Guerra como pano de fundo me arrisco a dizer que é muito interessante me deparar com uma história que também trabalha com elementos de espionagem e investigação, o que com certeza é o maior trunfo da obra. A dose constante de adrenalina que acompanha o protagonista — um espião que, trabalhando para Hitler, tem a tarefa de revelar um segredo importante da estratégia do inimigo — acaba por manter o leitor concentrado e com os próprios sentidos aguçados enquanto o personagem habilmente rasteja por entre sua missão num país hostil e a perseguição das autoridades.

A narrativa acompanha o espião revelando detalhes interessantes do funcionamento do serviço de espionagem no século XX durante os conflitos que rolavam entre a Segunda Guerra, dando um panorama produtivo com informações excitantes sobre assassinatos, trâmites políticos, a situação da população comum e da plebe e a constante ameaça fantasma de bombardeios e invasões que podem acontecer a qualquer momento. Esse plano de fundo é descrito pelo autor sem ofuscar a jornada dos protagonistas, tanto os que estão do lado de Faber — generais e oficiais alemães e até o mesmo o próprio Reich — como os agentes ingleses que o perseguem na tentativa de impedi-lo de realizar sua missão com sucesso; um segredo que Follet desenvolve no escuro durante todo o livro culminando em um clímax que o leitor poderá achar satisfatório.

“No início de 1944, a inteligência alemã estava reunindo provas da existência de uma numerosa unidade armada na região sudeste da Inglaterra. Aviões de reconhecimento conseguiram fotografias de barracas e campos de pouso, além de concentração de navios ao longo da costa [...] Havia sinais de transmissões entrecortando o ar, mensagens entre regimentos da área; espiões alemães, agindo na Inglaterra, confirmaram tudo [...]”.

Um dos poucos pontos fracos que encontrei na obra — e que mesmo assim pode passar batido frente aos muitos pontos fortes — é a ausência de um aprofundamento maior a respeito da história particular do personagem principal, Faber. Diferente de Lucy, que ganhou um bom desenvolvimento quanto à sua trama individual, o espião de Ken Follet se desenrola nesse sentido mais através de pequenos flashback’s e fluxos de consciência que o autor solta em determinados pontos da narrativa que auxiliam  outros elementos da história e nos ajudam a explorá-lo de uma maneira mais profunda.

Destaque para o panorama histórico bem construído que o romance traz e que funciona muito bem como um alicerce para a trama, dando informações sobre localidades e eventos que realmente rolaram durante a Segunda Guerra — com um bônus de mostrar de perto uma descrição interativa de Winston Churchil e Adolf Hitler, ambos em extremos opostos na balança onde o espião permanece. Ainda que particularmente tenha achado a primeira metade do livro um pouco cansativa, a descrição que promete um desenrolar interessante cumpre sua palavra e recompensa em dobro. Personagens secundários — mas que participam ativamente da trama — como Bloggs e Percy também trazem centelhas de suas próprias biografias, tornando o texto mais rico. Destaque ainda para o personagem Faber, que sem dúvida deixará o leitor de queixo caído com sua personalidade fria e uma capacidade incrível de levar a cabo a função que lhe é designada, uma atuação bem escrita e que serviu bem para o segmento da história.

“Era um plano enorme, quase impossível. Centenas de pessoas estavam envolvidas [...] Teria sido um milagre se nenhum espião de Hitler jamais tivesse  conhecimento disso [...] O objetivo era iludir o inimigo”.
“Havia espiões? Naquele momento, pensava-se que eles estivessem cercados pela então chamada Quinta Coluna. Depois da guerra, surgiu uma versão de que o grande número deles havia sido capturado no natal de 1939. A verdade parece ser que havia muito poucos, e quase todos eles foram capturados. Mas bastaria apenas um...”.

Com mais a ganhar do que a perder, O Buraco da Agulha de Ken Follet é uma recomendação válida para todos os tipos de leitor, oferecendo uma leitura agradável e com momentos de muita adrenalina. Gostei do romance e, ainda que tenha algumas pontas soltas, não diminui a qualidade do restante.
Boa leitura!

Nota: 7/10

Nascido no País de Gales em 1949, Kenneth Martin Follett iniciou sua carreira literária aos vinte e sete anos, quando trabalhava como jornalista em Londres. Seu primeiro livro, “Secreto of Kellerman’s Studio”, já continha os ingredientes do gênero que mais tarde o consagraria como um dos mais famosos autores de Best-sellers da atualidade: ação e suspense bem dosados, numa ficção baseada em fatos reais. Dois anos depois, lançava “O Buraco da Agulha”, que lhe rendeu o Prêmio Edgar Allan Poe dos Escritores de Mistério da América como o melhor romance de 1978 e foi posteriormente adaptado para o cinema.
A seguir, numa média de um romance por ano, vieram “Triângulo”, “A Chave de Rebecca”, “O Vôo da Água” e “O Homem de São Petersburgo”, obras que obtiveram enorme sucesso junto ao público e que comprovam o talento desse autor na criação de tramas fantásticas, conduzidas com precisão de mestre.


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