Uma coisa que sempre gostei
dentro da literatura são os romances que retratam histórias ambientadas durante
os eventos que registraram a Primeira e Segunda Grande Guerra, com narradores
descrevendo campos de concentração, zonas de batalha, jogos políticos e
personagens icônicos — Hitler, Churchil, Stalin e companhia — proporcionando um
interessante misto de informação e diversão enquanto a trama se desenrola. Nos
sentimos parte desses acontecimentos enquanto acompanhamos os personagens,
ainda que tudo tenha ficado para trás a muito tempo, escondido nas sombras dos
horrores da guerra.
Pensando sobre o assunto
enquanto visitava um sebo em minha cidade, me deparei com o um livro que a
princípio me chamou mais atenção pelo nome na capa, cujo dono eu já conhecia. Ken Follett, autor conhecido por
escrever A Chave de Rebecca, estava
lá abandonado na prateleira e resolvi levá-lo comigo; logo descobriria que O Buraco da Agulha era uma obra que
valeria a pena.
Em
plena Segunda Guerra Mundial, às vésperas do Dia D, um espião a serviço de
Hitler está a um passo de revelar aos alemães o segrego que pode mudar o rumo
da História. Mas um obstáculo em seu caminho deve ser eliminado: Lucy Rose,
jovem e bela mulher cuja vida pacata ao lado do marido inválido e do filho
pequeno se transforma numa angustiante tortura.
Ainda mais que romances que
desenvolvem sua trama tendo a Segunda Guerra como pano de fundo me arrisco a
dizer que é muito interessante me deparar com uma história que também trabalha
com elementos de espionagem e investigação, o que com certeza é o maior trunfo
da obra. A dose constante de adrenalina que acompanha o protagonista — um
espião que, trabalhando para Hitler, tem a tarefa de revelar um segredo
importante da estratégia do inimigo — acaba por manter o leitor concentrado e
com os próprios sentidos aguçados enquanto o personagem habilmente rasteja por
entre sua missão num país hostil e a perseguição das autoridades.
A narrativa acompanha o
espião revelando detalhes interessantes do funcionamento do serviço de
espionagem no século XX durante os conflitos que rolavam entre a Segunda
Guerra, dando um panorama produtivo com informações excitantes sobre
assassinatos, trâmites políticos, a situação da população comum e da plebe e a
constante ameaça fantasma de bombardeios e invasões que podem acontecer a
qualquer momento. Esse plano de fundo é descrito pelo autor sem ofuscar a
jornada dos protagonistas, tanto os que estão do lado de Faber — generais e
oficiais alemães e até o mesmo o próprio Reich — como os agentes ingleses que o
perseguem na tentativa de impedi-lo de realizar sua missão com sucesso; um
segredo que Follet desenvolve no escuro durante todo o livro culminando em um
clímax que o leitor poderá achar satisfatório.
“No
início de 1944, a inteligência alemã estava reunindo provas da existência de
uma numerosa unidade armada na região sudeste da Inglaterra. Aviões de
reconhecimento conseguiram fotografias de barracas e campos de pouso, além de
concentração de navios ao longo da costa [...] Havia sinais de transmissões
entrecortando o ar, mensagens entre regimentos da área; espiões alemães, agindo
na Inglaterra, confirmaram tudo [...]”.
Um dos poucos pontos fracos
que encontrei na obra — e que mesmo assim pode passar batido frente aos muitos
pontos fortes — é a ausência de um aprofundamento maior a respeito da história
particular do personagem principal, Faber. Diferente de Lucy, que ganhou um bom
desenvolvimento quanto à sua trama individual, o espião de Ken Follet se
desenrola nesse sentido mais através de pequenos flashback’s e fluxos de
consciência que o autor solta em determinados pontos da narrativa que auxiliam outros elementos da história e nos ajudam a
explorá-lo de uma maneira mais profunda.
Destaque para o panorama
histórico bem construído que o romance traz e que funciona muito bem como um
alicerce para a trama, dando informações sobre localidades e eventos que
realmente rolaram durante a Segunda Guerra — com um bônus de mostrar de perto
uma descrição interativa de Winston Churchil e Adolf Hitler, ambos em extremos
opostos na balança onde o espião permanece. Ainda que particularmente tenha
achado a primeira metade do livro um pouco cansativa, a descrição que promete
um desenrolar interessante cumpre sua palavra e recompensa em dobro.
Personagens secundários — mas que
participam ativamente da trama — como Bloggs e Percy também trazem centelhas de
suas próprias biografias, tornando o texto mais rico. Destaque ainda para o
personagem Faber, que sem dúvida deixará o leitor de queixo caído com sua
personalidade fria e uma capacidade incrível de levar a cabo a função que lhe é
designada, uma atuação bem escrita e que serviu bem para o segmento da
história.
“Era
um plano enorme, quase impossível. Centenas de pessoas estavam envolvidas [...]
Teria sido um milagre se nenhum espião de Hitler jamais tivesse conhecimento disso [...] O objetivo era
iludir o inimigo”.
“Havia
espiões? Naquele momento, pensava-se que eles estivessem cercados pela então
chamada Quinta Coluna. Depois da guerra, surgiu uma versão de que o grande
número deles havia sido capturado no natal de 1939. A verdade parece ser que
havia muito poucos, e quase todos eles foram capturados. Mas bastaria apenas
um...”.
Com mais a ganhar do que a
perder, O Buraco da Agulha de Ken Follet é uma recomendação válida
para todos os tipos de leitor, oferecendo uma leitura agradável e com momentos
de muita adrenalina. Gostei do romance e, ainda que tenha algumas pontas
soltas, não diminui a qualidade do restante.
Boa leitura!
Nota:
7/10
Nascido
no País de Gales em 1949, Kenneth Martin Follett iniciou sua carreira literária
aos vinte e sete anos, quando trabalhava como jornalista em Londres. Seu
primeiro livro, “Secreto of Kellerman’s Studio”, já continha os ingredientes do
gênero que mais tarde o consagraria como um dos mais famosos autores de Best-sellers
da atualidade: ação e suspense bem dosados, numa ficção baseada em fatos reais.
Dois anos depois, lançava “O Buraco da Agulha”, que lhe rendeu o Prêmio Edgar
Allan Poe dos Escritores de Mistério da América como o melhor romance de 1978 e
foi posteriormente adaptado para o cinema.
A
seguir, numa média de um romance por ano, vieram “Triângulo”, “A Chave de
Rebecca”, “O Vôo da Água” e “O Homem de São Petersburgo”, obras que obtiveram
enorme sucesso junto ao público e que comprovam o talento desse autor na
criação de tramas fantásticas, conduzidas com precisão de mestre.
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