O Poderoso Chefão foi em seu tempo um dos maiores
blockbusters que o mundo viu. A qualidade técnica, do roteiro e atuação transformou
a trilogia em um marco no mundo do cinema. O tempo levou consigo tudo o que
podia, e o Poderoso Chefão tornou-se um exemplo de obra admirada e pouco
assistida pelos cinéfilos da nova geração. Parece inaceitável para os que viram
toda a alma de Marlon Brando e Al Pacino em uma atuação impecável, e mesmo para
os que não aceitam a atuação solta de Sofia Coppola. A pergunta final para essa
análise é – até onde Poderoso Chefão é uma obra que toca a perfeição?
- O Poderoso Chefão - Parte I
O ano é 1972, o novato diretor Francis Ford Coppola teria cento e setenta e cinco minutos para adaptar um famoso livro de Mario Puzo para o cinema – e o estúdio não havia sido muito generoso, havia lhe dado seis milhões em orçamento e Coppola teria de comer parte da ambientação dos anos 30 e 40 da obra “The Godfather” de Mario Puzo. Em termos menos técnicos, a obra parecia fadada ao fracasso. Entretanto, teriam de contar com a genialidade de seus atores, da adaptação do roteiro e de sua fantástica trilha sonora.
Tudo funcionava como uma orquestra. Os atores respondiam
perfeitamente, o roteiro viria a se
tornar a bíblia dos filmes de máfia e a trilha sonora merecia aplausos. Muito
antes da Guerra dos Tronos, o
verdadeiro jogo de poder ocorria nas famílias ítalo-americanas que haviam se
estabelecido no inicio do século na América. A família Corleone vivia
verdadeiros confrontos de poder e orquestramento político – o verdadeiro jogo
de influência e o jogo sem limites para atingir os objetivos. A falta de
escrúpulos é muito mais visível na sequência, mas a primeira parte nos
contextualiza de forma quase perfeita – aquela é a verdadeira máfia, cosa
nostra ou qualquer que seja o nome, nada de brincadeiras e você deve escolher
seus aliados.
O destaque das atuações sempre se focam, com toda justiça ,
sobre Marlon Brando e Al Pacino, que atuam respectivamente como Don Vito
Corleone e Michael Corleone. A atuação torna o clímax do filme triste – e sem
spoilers, alguém que você admira pode partir no final das contas. Junte duas dúzias de cenas memoráveis, e você
tem o filme quase que descrito. Adicione a dramática produção e a difícil
incorporação de Marlon Brando e a difícil aceitação de Al Pacino pelos
executivos, e você o tem completo.
O filme teve nove indicações ao oscar, e venceu em
três. O filme foi eleito o melhor do
ano, Marlon Brando foi coroado por sua atuação com um oscar e o filme venceu na
categoria de melhor roteiro adaptado. O sucesso do filme foi estupendo – o
filme que custou apenas seis milhões rendeu quase duzentos e cinquenta milhões,
um verdadeiro fenômeno ao seu tempo.
Nota: 10/10
- O Poderoso Chefão - Parte II
Criar uma sequência é uma tarefa difícil. Quando a primeira
obra se torna um clássico instantâneo, a sua sequência é cobrada ao máximo. A
franquia Star Wars se saiu bem, Matrix nem tanto, Kill Bill é controverso - mas
nenhuma sequência no cinema foi tão boa quanto a continuação de The Godfather. O filme quebrou o estigma
das sequências e foi a primeira sequência a repetir o feito de seu primeiro
filme e vencer o oscar da academia com
louvores novamente. E como fizeram isso? Errando pouco e driblando as
adversidades de seu roteiro progressivo.
O filme foi lançado em 1974, dois anos após o primeiro filme – no roteiro do filme os eventos nos guiariam para sete anos após o primeiro filme.
O filme foi lançado em 1974, dois anos após o primeiro filme – no roteiro do filme os eventos nos guiariam para sete anos após o primeiro filme.
Al Pacino assume o protagonismo deixado por Marlon Brando, e
seu personagem Michael Corleone se torna o verdadeiro Don da família. O filme
traz uma carga mais pessoal que o primeiro, conhecemos muito mais Michael
através de suas provações e de suas medidas por sua família – mas o filme não
se esquece de Vito Corleone, interpretado em flashbacks ao passado por Robert
DeNiro, em atuação igualmente esplêndida.
A segunda parte mostra um lado mafioso ainda diferente – o
envolvimento mais amplo com a política, os julgamentos e os jogos por detrás da
cortina. Michael não pretende ser o testa-de-ferro para sempre, mas legalizar
os negócios passa a ser um desafio. A que custo a máfia deve seguir? O custo
pago por Michael é caro, e os tormentos o acompanham pela sua sequência na
terceira e última parte da trilogia.
Em ambientação o filme vive ambos os lados – o lado
ítalo-americano diminui, mas temos o lado verdadeiramente italiano do começo do
século na américa e o passado de Vito Corleone na Sicília. Entre agrados e
desagrados, poucos filmes conseguiram contar tão bem duas histórias em uma
única frente. Não faça questão de juntar
só as boas cenas, mas pegue a fotografia, pegue a ambientação, pegue as trilhas
e admire. Com quanta qualidade se faz uma boa sequência? A pergunta parece
fácil depois de terminar o filme.
O filme venceu mais oscars que o primeiro. Ao todo foram
nove indicações, seis vencidos – que incluíam melhor filme, melhor diretor,
melhor trilha e melhor ator coadjuvante. A segunda parte pretendia-se ser a
última, o que justifica o tempo de desgaste até a parte três. Coppola pensou na
saga como sendo de apenas dois filme e um epílogo sobre a morte de Michael
Corleone. Os produtores não ficaram felizes, e a trilogia teria sim uma última
sequência.
Nota: 10/10
- O Poderoso Chefão - Parte III
A terceira parte não é como todos dizem – que vertigem de
olhar do segundo para o terceiro. É verdade que o filme decai em diversos
pontos – a ambientação, um ponto chave dos primeiros filmes, é quase toda
perdida. Ainda é sofrível ver a atuação de Sofia Coppola como filha de Michael,
uma atuação alheia e cercada de grandes atores – é um contraste que atrapalha o
filme. Até mesmo as boas coisas se perdem em meio ao mais ou menos.
O filme é intimista – como parelelo, lembre-se de Homem de
Ferro 3, 007: Skyfall ou dos 007 de George Lazenby – e se sustenta em seu
protagonista. Al Pacino é um ator impecável na sequência, como em toda a saga,
e os bons momentos estão em suas cenas. O clima festivo italiano parece segurar
o filme, mas o jogo político que mesclava fantasia e realidade parecia fora de
contexto. Até então era um filme de ficção que podia ser verdade em todos os
campos, mas agora não parecia tão pefeito. A morte do papa e escândalos políticos,
pequenos erros que comprometeram.
Algumas atuações fracas tiram o brilho do filme – e
perdoe-me a vencedora do oscar Sofia Coppola, mas a beleza da jovem não salvou
a atuação esquecível. A trilha sonora permanecia excelente, e mesmo os
dezesseis anos de distância para o segundo filme pareciam curtos nesse quesito.
Michael Corleone está lá para se redimir, mas também para legalizar sua família a todo
custo e ter sua redenção – e mesmo em meio a tantas pequenas críticas, está ai
o ponto alto e o ponto triste. O ponto alto é que Al Pacino dá vida a Michael
Corleone, não é novidade, mas o drama é realista e o sexagenário está no ápice
de seu sofrimento. O ponto triste é que a trilogia tem um final – e um bom
final ,diga-se de passagem.
O filme ainda excelente, apesar de tudo, foi indicado a sete
oscars, mas dessa vez não levou nenhum. Sofia Coppola dormiu com dois
framboesas de ouro. E a trilogia, e que bela trilogia, chegou ao fim. Do jogo
político ao sentimental pulso de ferro, até a redenção de um grande pecador.
Nota: 7.5/10
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