Começa a semana nova e nada
melhor do que uma dose de ficção científica de vez em quando para nos
divertirmos e darmos uma refletida sobre o que ela tem a nos dizer; acontece
que isso fica ainda melhor quando encontramos na mistura uma pitada de viagem
no tempo e, de quebra, talvez a mãe de todas as viagens no tempo que já vieram
a público.
Sim, amigos leitores e
leitoras, eu estou falando do tão amado, discutido, controverso e teorizado H. G. Wells, cidadão responsável pelo
magnífico e (atemporal) romance A Máquina
do Tempo, que conta a história de um cientista que viaja para o futuro
através de um engenho desenvolvido por ele e se depara com uma realidade um
tanto diferente do que ele esperava.
“Foi
às dez horas da manhã de hoje que a primeira Máquina do Tempo começou a sua
carreira. Fiz uma revisão geral, apertei todos os parafusos, pus mais uma gota
de óleo na alavanca de quartzo e me acomodei no assento. Creio que um suicida,
ao encostar na testa uma pistola, sente a mesma curiosidade que eu experimentei
naquele instante: o que iria acontecer em seguida?”
Texto retirado da
contra-capa
É muito nítido para aqueles
que me conhecem que sou um apreciador muito afetuoso do gênero ficção
científica — bem como seus subgêneros e ramificações que hoje já vão longe —
especialmente dentro da literatura, que tem frutos muito valiosos a nos
oferecer. De modo que a minha maior expectativa frente à narrativa de Wells era
a de conhecer avidamente todo o funcionamento da famosa máquina que viaja no tempo,
compreender as suas características técnicas, visitar junto ao
narrador-personagem cada pequeno detalhe da sua construção, para enfim
embarcarmos todos juntos para uma aventura misteriosa e cheia de curiosidade,
onde eu ficaria fascinado com tudo o que haveria de diferente e desconhecido.
Aconteceu, entretanto, que
uma das partes dessa minha expectativa se mostrou recompensada, e a outra nem
tanto.
O romance é relativamente
pequeno e não pretendo entregar muito do enredo, mas o seu foco narrativo trabalha
mais com a questão de onde o viajante
irá desembarcar, e não exatamente como sua
viagem funciona até lá. Wells, para surpresa de muitos leitores e revolta de
outros, bem como de escritores de sua época (Júlio Verne o criticou avidamente)
não oferece uma extensa explicação técnico-científica a respeito dos
fundamentos de sua criação, abordando a arquitetura minuciosa e categórica
sobre cada componente da máquina; uma ausência como essa dentro de um romance
de ficção científica é às vezes vista como ponto negativo, uma suposta falha do
escritor que para alguns leitores mais criteriosos pode causar certo desagrado.
Ainda que não recebamos essa
explicação ao longo da narrativa, é necessário destacar que o autor nos
recompensa em outros aspectos que surpreendentemente acabam por se mostrar mais
importantes, considerando a direção tomada pela trama e quais são os pontos e
questões que a história deseja tratar. Tal história, que é contada em dois
pontos de vista diferentes — narrada pelo viajante do tempo e por um outro
personagem — é recheada de revelações intrigantes, observadas através do
protagonista que descreve suas experiências e as transmite ao leitor. É um
ponto forte do texto a possibilidade de abrir a mente, criar novas perspectivas
e dar atenção a fatores que ainda hoje são presentes em nossa sociedade.
“Com
uma narrativa envolvente, H.G. Wells nos mostra a fabulosa jornada de um
cientista inglês a um mundo futuro, desconhecido e perigoso. Acompanhamos suas
descobertas, seu deslumbramento e o horror que, aos olhos do viajante, aos
poucos se anuncia.”
Texto retirado da
contra-capa
Assuntos como desequilíbrio
social, conflitos entre nações, a capacidade da humanidade de destruir a si
mesmo e a seu ambiente são expostas pelo autor no plano de fundo das aventuras
do protagonista, que se vê diante de muitas novidades que certamente irão
manter o interesse do leitor.
A própria trama da obra é
divertida e envolvente, ainda que retrate a humanidade de uma maneira
pessimista, ponto de vista esse que é muito reforçado pelo escritor. A
curiosidade, a investigação, a descoberta de novas coisas, o mistério do que
existe no desconhecido e agora acessível novo tempo são trunfos que o texto de
Wells oferece com abundância. A Máquina
do Tempo é um romance inovador e que transgride os limites das décadas e
séculos que o seguem, tendo trazido um universo totalmente novo para o gênero
ficção científica e garantido influência em inúmeros outros escritores
posteriores. Seu potencial para descrever uma viagem no tempo que não envolve
elementos fantásticos, apenas a tecnologia de um cientista sonhador, é um marco
divisório que merece mérito e reconhecimento, sendo esta uma das fontes para a
riqueza da obra.
“[...]
O que poderia aparecer ali quando aquela cortina de névoa desaparecesse? O que
teria acontecido aos homens daquele tempo? E se a crueldade tivesse se
transformado num culto entre eles? E se naquele intervalo a nossa raça tivesse
perdido a sua aparência humana e se transformado em algo inumano, hostil e
esmagadoramente poderoso? Talvez eu parecesse a eles um animal selvagem de um
mundo remoto, tornado ainda mais horrendo e repulsivo devido à nossa semelhança
— uma criatura bestial que deveria ser morta de imediato.”
Parágrafo retirado da
pág. 42
Título:
A
Máquina do Tempo (The Time Machine)
Autor:
H.G.
Wells
Ano:
1895
País:
Inglaterra
Herbert George Wells,
conheccido como H. G. Wells (Bromley, condado de Kent, 21 de setembro de 1866 —
Westminster, Londres, 13 de agosto de 1946), foi um escritor britânico e membro
da Sociedade Fabiana. Nos seus primeiros romances, inventou uma série de temas
que foram mais tarde aprofundados por outros escritores de ficção científica e
que entraram na cultura popular em trabalhos como A Máquina do Tempo, O Homem
Invisível e A Guerra dos Mundos — chegou
a discutir em obras do início do século XX questões ainda atuais, como a ameça
de guerra nuclear, o advento de um Estado Mundial e a ética na manipulação de
animais.
Á medida que envelhecia,
Wells foi-se tornando cada vez mais pessimista acerca do futuro da humanidade,
como é sugerido pelo título de seu último livro, Mind at the End of this Tether. É conhecido como pai da ficção
científica.
Biografia adaptada de
Wikipedia
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