Terry Gilliam não é exatamente o preferido dos executivos
de Hollywood para guiar um projeto de cinema. Não entenda mal – Terry Gilliam é
sem dúvida um dos melhores diretores vivos, e um dos mais geniais sem sombra de
dúvidas. Entretanto seu estilo de dirigir, escrever e traçar os seus excelentes
roteiros tornam suas obras complexas e pouco atrativas para o grande público. A trilogia da imaginação, que embora não
tenha ligação direta entre nenhum dos filmes, foi um fracasso retumbante de
bilheteria – mas um sucesso absoluto de crítica.
A trilogia teve o custo ao todo
de sessenta e cinco milhões e rendeu apenas sessenta milhões – sendo que Time Bandits, o mais bem sucedido da
trilogia, rendeu sozinho quarenta e dois milhões. O fracasso nas bilheterias
fez com que a trilogia ficasse relegada a um público limitado, e ganhasse o
status de filme cult. Antes de
adentrarmos os três filmes, é importante citar e explicar: Como três filmes desconectados são considerados uma trilogia?
Na cabeça de Terry Gilliam, os
três filmes estavam ligados a forma como eram vistos pelos personagens. O
primeiro era visto pelos olhos de uma criança, o segundo pelos olhos de um
adulto e o terceiro pelos olhos de um idoso. Por isso, pela forma inusitada de
Gilliam de criar uma saga ela ganhou a alcunha de “Trilogia da Imaginação”.
- Time Bandits (1981)
O maior sucesso da trilogia é
também o mais querido pelo público. O filme teve o oportuno momento de sair em
meio aos blockbusters de verão, e conseguir uma bela bilheteria. O filme conta a
história de Kevin, um jovem adorador da Grécia antiga e história em geral – e
ele tem a oportunidade, de gaiato é verdade, adentrar e viajar pela história
graças à ousadia de sete atrapalhados anões de roubaram o mapa do Ser supremo e que agora tem no encalço o
Gênio maligno.
A produção conta com uma bela
equipe, que inclui John Cleese, Sean Connery , Ralph Richardson, Ian Holm,
Michael Palin e todos os anões famosos do cinema. Embora não seja perfeita em
toda sua execução, é uma das mais fantásticas aventuras do cinema. Quase que
totalmente livre de efeitos técnicos absurdos, e em tempos que universos eram
fantásticos mesmo sem os excessivos CGI’s que perturbaram nossas retinas no
meio dos anos 2000.
A trilha sonora conta com George
Harrison, amigo de longa data de Gilliam, que compões a canção final do filme e
ainda trabalhou por detrás das câmeras como produtor executivo do filme. Muito
da produção – incluindo a parte financeira – foi ajudada por Harrison.
Por fim é seguro afirmar – da
trilogia, o filme sem dúvida mais é o mais assertivo. Agrada crianças e
adultos, e traz mensagens que o primeiro grupo talvez não compreendam na
primeira vez, mas que certamente os farão pensar no futuro. Os Bandidos do Tempo é uma obra
fantástica.
Nota: 09/10
- Brazil (1985)
Brazil é o meu filme favorito da
trilogia, e um dos meus favoritos pessoais. Com tantas mensagens e coisas a se
entender do filme – que pra nós do lado de cá do atlântico já começa com um
belo questionamento: Porque o filme se
chama Brazil? A resposta não é certa e muito tem a ver com a música tema do
filme que é a “Aquarela do Brasil”, cantada na versão inglesa e bem executada
durante o filme. Ao tempo de seu lançamento o filme parecia ser uma crítica a
forma ditatorial vigente no país, e embora nada tenha sido de fato confirmado,
muitas similaridades (com exageros) são vistas no filme.
O filme está contido em duas
“trilogias”, a primeira é a que vos falamos hoje “A trilogia da Imaginação” e a
segunda a chamada “Trilogia Distópica” que tem ainda “Doze Macacos” e “Teorema
Zero”. Com um mundo de extremismos entre estado e burocracia, e com uma
realidade que ainda é vista durante o filme – tal qual a destruição ambiental,
um mundo dependente dos computadores e com grupos terroristas oposicionistas –
Brazil certamente é um dos filmes mais críticos já feitos, e embora pareça
difícil leva-lo a sério em certos momentos, é vital entender que o filme de
fato só termina quando acaba. Não tire conclusões antes que de fato subam as
letras.
Com atuação simplista, mas
convincente de Jonathan Pryce, participação de Michael Palin e Robert DeNiro, o
filme traz qualidades imbatíveis – e talvez alguns poucos defeitos. Ao menos
para alguns, o filme poderá parecer maçante, são raras as cenas de ação e pode
ser simplesmente assimilar o fato de que a ação não é o foco do filme. Embora a
cena das invasões dos soldados e a fuga de caminhão sejam sequências bem
produzidas. Com uma arte impecável – Brazil tem um dos pôsteres mais criativos
e lindos do cinema – e uma trilha premiada pelas variações de “Aquarela do
Brasil” (na versão inglesa Watercolor of Brazil).
Brazil é um dos filme que me faz
amar o cinema. O filme é o que tem notas mais altas da trilogia.
Nota: 8,5/10
- The Adventures of Baron Munchausen (1988)
O ultimo filme da trilogia
corresponde com outros. As notas são altas, o público assim como em Brazil não foi o esperado. O filme é o
mais caro da trilogia, custou quase quarenta e cinco milhões e não rendeu mais
do que dez. Apesar disso, o filme segue a linha de Gilliam – dessa vez é
narrado por um homem velho. O filme é
sitiado historicamente pelo real barão Munchausen que lutou – assim como no
filme – contra os turcos e o império otomano.
A história embora seja histórica
tenta em parte resgatar o espirito do primeiro filme, com um tom mais
aventureiro – talvez para recuperar o apelo comercial perdido com Brazil - e mais divertido comparado ao filme anterior,
o filme consegue convencer o espectador de que dessa vez teremos menos
mensagens a ser passadas, apenas uma doce aventura. Um belo engano, o filme
continua a trazer o seu lado mais romântico e de críticas as formas de governo
e de guerra. A herança de Terry Gilliam (que já havia experimentado tais
críticas com Monty Python).
O Barão de Munchausen é o filme
que menos gosto da saga – embora esteja longe de ser ruim. Narrado de forma
muito competente, e nesse ponto sem dúvida é o mais bem narrado de toda a
trilogia, o Barão e sua extravagante capa encerraram a trilogia. Quando o
terceiro capítulo não nos agrada tanto, estamos habituados a classifica-los
como “dignos” ou “indignos” de fechar uma bela saga. As Aventuras do Barão Munchausen não é digno, pois está longe de estar abaixo
dos outros, o nível certamente é o mesmo. A trilogia desperta diferentes
sentimentos em quem os assiste – Amar Brazil,
Odiar Time Bandits, Odiar Brasil e amar todos. Competência
eu prefiro dizer.
08/10
- And Now for Something Completly Different...
O veredicto é simples – A Trilogia da Imaginação é incrível. Verdade seja dita, não é para
todos os gostos, mas é para os que não querem simplesmente um blockbuster de
verão ou um triste solavanco no estômago ao assistir os suspenses baseados em
trilhas sonoras, escapar dos CGI’s absurdos e descansar os olhos.
Excelente texto!!
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