O Corvo é uma rara adaptação de
quadrinhos que se arriscou além da colina permitida pelos fãs. Seguiu uma linha
diferente e menos lírica, introduziu novos momentos e sua incontestável qualidade
quase foi eclipsada pela tragédia que tirou a vida de seu astro maior. Brandon
Lee fez sua mais brilhante atuação em uma adaptação de quadrinhos antes de a
maioria sequer tentar. Alex Proyas (Dark City e Eu, Robô) fez de O Corvo uma
adaptação aquém do esperado.
Lançado em 1994 sob a escrita de
ser uma adaptação direta dos quadrinhos de James O’Barr, denominado apenas “The
Crow”, o filme pouco prometia e contou com um orçamento baixo mesmo para os
padrões da época. Com um orçamento de seis milhões, o então quase novato Alex
Proyas teria de fazer o melhor possível – e as expectativas eram péssimas por
parte dos fãs. Como adaptar uma obra que se mostrava tão lírica e tinha ação
tão rasa para o cinema, e com orçamento digno de filme independente? Seria difícil.
O roteiro de “O Corvo” sofreria
alterações com relação aos quadrinhos e a ação seria aumentada – o lirismo
seria diminuído, mas não extinto por completo. Sem medo de errar, a produção começou
em 1993 e com todos os desafios a obra foi feita - com a fatalidade de que em 31 de Março de
1993, Brandon Lee (Eric Draven, no filme) morreria acidentalmente após um disparo
de arma durante a gravação.
As gravações foram abandonadas e
a obra não seria lançada. Alex Proyas por outro lado resolveu em homenagem a
Brandon terminar a obra usando efeitos especiais – faltavam poucas cenas com
participação de Brandon para o filme ser concluído, já que o filme havia sido
estranhamente gravado fora de ordem. O filme foi lançado um ano depois da morte
de Lee, em 1994.
Com roteiro voltado mais para
ação e como já dito, com menos lirismo e ainda menos poético – The Crow
tornou-se um sucesso comercial dentro de suas especificações. Rendeu cem
milhões, contava com trilha sonora de respeito com participação de The Cure e
Stone Temple Pilots e o roteiro havia funcionado. Alex Proyas focara-se na
ação, mas a poesia estava lá e o filme não fadou-se a ser um filme de vendetta típico
dos anos 90. Era mais que isso, era uma grande filme de ação e com um profundo protagonista - e a essência dos quadrinhos estava lá.
As atuações de Brandon Lee (Eric
Draven), Rochelle Davis (Sarah) e Michael Wincott (Top Dollar) foram exemplares – não necessariamente
dignas de oscar, mas exemplares – e foram elogiadas pela crítica em geral. Os
cenários góticos, incomuns em histórias em quadrinhos da época empolgaram os
entusiastas do gênero e o clássico cenário de Detroit se tornou ainda mais
comum.
O Corvo foi quase eclipsado pela
morte trágica de Brandon e tornou-se seu mártir, uma obra digníssima. Arriscando
em um mercado novato, com cenários que beiravam o cyberpunk distópico e sem em
elenco estrelado – assim foi feito, e seu lugar nas boas adaptações está garantido.
Nota final: 9/10
Por: Vitor Oliveira
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